Entendo dever dizer algumas palavras.
As primeiras serão para informar V. Ex.ªs de que esta sessão de lançamento esteve para não se realizar, pensava que o meu escrito, simples biografia, a não justificava.
Os meus netos, Maria Isabel e Gaspar de Coimbra, manifestaram-me, logo, opinião contrária, a sessão serviria de motivo para reunir pessoas de família e amigas.
De momento, essa opinião não me mereceu atenção. Vim, pouco tempo depois, a aceitá-la e a segui-la. Esta a razão que aqui estamos. Graças a esses dois netos.
Desta hesitação poderá dar testemunho o meu solícito editor, António Carlos de Azeredo, que logo me sugeriu que para a presidência se covidasse o Prof. Universitário Doutor Sotto-Mayor Pizarro, a que não anuí por me parecer vulto de demasiada intelectualidade para o efeito.
Antes de mais, já que abordei o nome de António de Azeredo, que além de editor é também autor de um interessante guia da cidade de Braga, repleto de esplêndidas fotografias.
Agradeço-lhe as palavras que me dirigiu, demasiado bondosas, tanto para mim como para a Família.
Apreciei muito a alusão que se dignou fazer a meu bisavô paterno D. Gaspar, relatando o episódio, quando ele, ainda muito novo, se apresentou em Amarante ao General Silveira, defensor da ponte, em 1809, pretendida pelos soldados franceses da 3.ª invasão do General Soult, já em retirada para França.
D. Gaspar tinha então a sua Casa-Mãe do Pinheiro de Além, na freguesia de Fregim, em posição vizinha do casario de Vila de Amarante, freguesia de S. Gonçalo.
Apresentou-se, é dos livros, ao General Silveira com um contingente de 200 homens por ele comandados, escolhidos, fardados, alimentados e remunerados, para o ajudarem na defesa da ponte.
A sua Casa e Capela do Pinheiro de Além são incendiadas, acompanhando o incêndio do casario da Vila, perpetrado pela perversa soldadesca de Soult.
A este episódio, relatado por António de Azeredo, eu acrescento que D. Gaspar foi um arreigado miguelista. Rejubilou, em 1823, com a Vilafrancada. Em 1828 alinhou na defesa do reinado de D. Miguel, então já como Tenente General Comandante do Regimento das Milícias de Basto.
Vencido, com a rendição de D. Miguel, em 1834, viu-se sobrecarregado de dívidas, como sucedeu a muitos outros vencidos, enquanto os vencedores se locupletavam com os bens extorquidos às Ordens Religiosas, como paradigma cita-se o Duque de Palmela, que se apropriou gratuitamente da Serra da Arrábida, cerca de Palmela, de onde lhe advém o título e onde, no Castelo, para cúmulo do sarcasmo, se encontra o túmulo de D. Jorge, 2.º Duque de Coimbra.
Para salvar as dívidas, D. Gaspar tem de vender a sua Casa e Capela do Pinheiro de Além e os respectivos bens e foi-se refugiar na Casa da Quintã, próxima da Livração, onde viria a falecer, a qual era de seu cunhado Jaime de Magalhães e Menezes, também Senhor da Casa da Torre da Lixa, casado com sua irmã mais velha D. Ana Rita.
Agora, António de Azeredo, os mais vivos agradecimentos pela sua lúcida intervenção editorial que deu ao meu escrito uma atracção especial que muito o valoriza.
A amizade, que a ele me liga, remonta à que dedicava a seus pais, tendo conhecido de perto os seus Avós, o paterno, que viveu na mesma rua desta cidade quase paredes meias, em casas muito próximas. O Avô materno, em Braga, quando por lá deambulava no liceu de Sá de Miranda.
De um irmão da Senhora sua Mãe fui muito amigo, o não esquecido Guilherme Braga da Cruz, Lugar Tenentede Sua Alteza Dom Duarte Nuno, Duque de Bragança e, simultaneamente, Reitor da Universidade de Coimbra, tão mal tratado nessa mesma Coimbra, pelos ferverosos laudatórios do 25 de Abril.
Reforçei a amizade com o António de Azeredo desde que soube que era casado com a Maria José de Mancelos Corte Real, que conheci há bons tempos, nos primeiros anos da sua mocidade.
E agora, antes de mais, quero dirigir-me ao Prof. Doutor José Augusto Sotto-Mayor Pizarro, que se dignou presidir a esta sessão, a agradecer-lhe as palavras encomiásticas que imerecidamente teve a bondade de me dirigir e a a magistral lição de história pátria sobre o tema do livro apresentado.
Já de há muito tinha por S. Ex.ª alta consideração, desde que li um livro da sua autoria, denominado, salvo erro, “Patronos do Convento de Grijó”, livro que evidencia bem a sua intelectualidade, ingente de saber, e de erudição e de bom sabor literário.
Senhor Professor, peço-lhe que aceite a minha homenagem de muita consideração e reconhecido agradecimento.
Agora algumas palavras sobre o meu escrito. Não passa da biografia de um personagem de grande relevo mas pouco alumiada na nossa História dos séculos XV e XVI, reinados de D. Manuel I e de D. João III. Teve como privilégio o ser o filho do grande rei D. João II, “segundo no nome mas ninguém segundo”, no dizer do sei fidelíssimo Garcia de Resende. É ele que, morto seu filho Afonso, Príncipe real, no desastre de Santarém, consegue, do Papa Clemente VIII, as bulas que intronizam D. Jorge, aos onze anos, Mestre da Ordem de Aviz e Mestre da Ordem de Santiago da Espada, que ele viria a gerir e orientar com exímio saber e rara urbanidade.
Sendo de Vasconcelos a minha varonia, não posso esquecer que a minha terceira Avó paterna era neta de D. Ana Joaquina, filha de D. Rodrigo de Lencastre, neo do 1.º Comendador de Coruche (1677-1775), que também era pai de D. João, 1.º Conde da Lousã (1713-1765) que, no seu tempo, detinha a principal varonia de D. Jorge, através do filho D. Luís, Comendador-Mor de Aviz, seu 3º. Filho Varão com descêndencia. Logo, D. Ana Joaquina era irmã do 1.º Conde da Lousã e a minha 3.ª Avó, sua sobrinha-neta.
Escrevendo a biografia de D. Jorge presto homenagem ao Gerarca dos Lencastre, sendo eu o primeiro dos seus múltiplos descendentes, ao longo dos últimos cinco séculos, a prestar-lhe homenagem em livro próprio, exclusivo.
Ditas as palavras que ficam, as últimas são dirigidas a todos os que se dignaram acorrer a este salão e serão de saudação e vivos agradecimentos.
Finis laus Deo