Casa dos Coimbras - Reunião Familiar
Missa pelas
11:00 horas na Capela da Nossa Senhora da Conceição da Guia, celebrada pelo Senhor
Padre Luís Filipe de Lencastre, com homilia em honra de Nossa Senhora da
Conceição, Padroeira de Portugal. A Missa foi também transmitida em directo
para os demais familiares e amigos que não puderam estar presentes, através da
Internet.
Antes da Missa, o 14º Administrador da Capela e Casa dos Coimbras, D. Rodrigo de Coimbra de Queiroz Vasconcelos e Lencastre, proferiu as seguintes intenções da Missa:
“Antes de partilhar as intenções da Missa, gostaria de agradecer a presença do nosso Primo, o Sr. Padre Luís Filipe de Lencastre, que irá celebrar hoje connosco a Eucaristia, na ausência do nosso muito estimado Sr. Cónego António Macedo que, por motivos de doença prolongada, não pode este ano celebrar a nossa Missa, como o tem feito desde há muitos anos para cá, ininterruptamente. Ao Sr. Padre Luís Filipe de Lencastre damos, portanto, as boas-vindas a esta Capela dos Coimbras, consagrada a Nossa Senhora da Conceição da Guia, guardando nós a espectativa de poder continuar a tê-lo connosco em futuros anos.
1ª. A Missa terá como primeira intenção a de satisfazer as disposições testamentárias do Dr. João de Coimbra, provisor do Arcebispo de Braga, D. Diogo de Souza, e instituidor do Morgadio dos Coimbras, dando-lhe como cabeça esta Capela de Nossa Senhora da Conceição da Guia, que o mesmo Dr. João de Coimbra escolheu para seu sarcófago e aqui se encontra sepultado.
2ª. A segunda intenção será de sufrágio das almas, falecidas este ano: D. Maria Mendes de Freitas Lencastre, minha Tia-Avó, casada com o meu Tio-Avô D. Manuel de Lencastre, ambos marcaram presença no prelúdio destas reuniões anuais, estando aqui presente a sua Filha Maria Haydee de Queiroz e Lencastre; o nosso Primo Miguel Maria Freitas Lencastre, que no passado também marcou presença nestas celebrações familiares e cujo irmão, José Freitas Lencastre, aqui está presente; por fim, em sufrágio da alma de do Primo José Ernesto Souza-Cardoso, faz hoje precisamente um ano da sua morte e também ele assistiu a algumas destas reuniões anuais.
3ª. Outra intenção será para que o Reverendíssimo Cónego António Macedo, nosso Capelão que, desde há muitos anos para cá, celebra esta Eucaristia Mariana connosco, todos os 8 de Dezembro e que se encontra em convalescença; brevemente se restabeleça e que possa regressar a esta Capela de hoje a um ano para novamente celebrar a Santa Missa.
4ª. Ainda uma intenção pelo rápido restabelecimento da nossa amiga Elisa Cunha e Silva, assídua presença nestas nossas reuniões e também da nossa Prima Maria Teresa Pouzada Martins Bonito, que nos anos mais recentes tem também celebrado connosco estas cerimónias.
5ª. As últimas intenções da Missa serão pelas almas de
todos os caídos, e já são tantos, que acorreram a esta cerimónia que,
anualmente, sem qualquer quebra, se tem realizado há já 45 anos. “
Terminadas as intenções formais, peço também a Nossa
Senhora da Conceição da Guia, Padroeira desta Capela, uma bênção especial para
a nossa ditosa Tia Guidinha, D. Maria Margarida Lencastre, que completará em
Janeiro próximo os seus 100 anos de caminho neste mundo terreno; damos graças
pelo seu século de vida – uma inspiração e exemplo de Fé e Abnegação em prol do
próximo e da nossa Família. Estendo um abraço de saudade às Terras de Vera
Cruz, onde hoje se encontra. Possa a nossa oração chegar mais longe do que o
oceano que nos separa da nossa querida Tia-Matriarca”.
Após a Missa,
seguiu-se o tradicional brinde com vinho fino do Douro, tomado na Sala do
Capítulo da Torre dos Coimbras, durante o qual D. Rodrigo Lencastre proferiu
palavras de boas-vindas a todos os convidados, baseadas nas seguintes notas
previamente preparadas:
- Como Cristãos que somos e dando graças pelo privilégio de estarmos hoje reunidos, neste torreão centenário, comungando do nosso Sangue e da nossa Amizade, agradecemos sempre prioritariamente a Deus Pai e a Nossa Senhora da Conceição, nossa Mãe divina e Padroeira da Capela dos Coimbras, que hoje celebramos. Vão já 45 anos de ininterrupta realização destas nossas reuniões anuais, a caminhar para meio século. Possamos nós continuar a contar os anos até lá, com saúde e em união familiar e fraternal.
- E também pela quadragésima-quinta ocasião, agradeço a presença de todos os que aqui me rodeiam. Presentemente posso dizer que apenas uma pessoa nunca falhou nenhuma destas celebrações anuais. Como tal, faço uma menção de honra à minha Tia Menu (D. Maria Isabel de Lencastre), nossa pedra basilar da descendência do meu Avô D. António. Relevo também a minha Tia-Avó Guidinha que irá celebrar brevemente, em Terras de Ver Cruz, um século de vida! Nossa Senhora a continue a proteger e a guarde em Graça entre nós!
- Respeitando ainda a tradição das breves palavras proferidas nesta Torre, da mesma forma que o meu Avô e meu Pai já o faziam, felicito de forma especial os debutantes nestas nossas andanças de 8 de Dezembro: o nosso Primo, Sr. Padre Luís Filipe de Lencastre, minhas Primas, Joaninha e Leonor Lencastre, seus maridos Diogo Alves Nicolau e António Carona e os seus filhos, Rodrigo e João Alves Nicolau e Vicente Carona. Felicito ainda a estreia do meu Primo Francisco Ferraz e do nosso amigo Francisco Guedes de Carvalho e finalmente a presença refrescante do meu Sobrinho e Afilhado de Batismo, Miguel Lencastre Pimentel Barbosa. Bem-vindos ao nosso Clã dos Coimbras. Desejamos que por cá continuem nos próximos anos!
- Esta ano, as minhas palavras assumem um formato mais didático, importante para conhecermos um pouco mais a história desta Casa e Capela dos Coimbras. Como descendentes e herdeiros deste património espiritual, devemos celebrar estas pedras, não só brindando a elas, mas também aprendendo um pouco mais sobre quem as ergueu. Neste caso irei sobrelevar dois antepassados nossos que contribuíram de forma inequívoca e definitiva para o privilégio de estarmos hoje aqui, protegidos por estes muros: Dr. João de Coimbra, o fundador e D. José de Lencastre, meu Bisavô, que resgatou a Casa dos Coimbras da sua destruição quase certa. Assim, partilho convosco o texto de um estudo descomplicado, mas primoroso, realizado em 1995, por Maria da Assunção Jácome de Vasconcelos, também ela nossa Prima:
- “D. João de
Coimbra, Doutor em Degredos, era natural de Lisboa e viveu em S.
Vicente de Fora, por cima do Marco Salgado. Veio para Braga em 1505, no
tempo do Cardeal D. Jorge da Costa. Entre vário cargos que assumiu em
vida, foi Provisor e Vigário Geral da Arquidiocese de Braga, (funções
confirmadas em Setembro de 1505, pelo Arcebispo D. Diogo de Sousa, figura
histórica e ímpar da cidade de Braga). Foi também abade da freguesia de S.
João do Souto (onde hoje nos encontramos), de S. João de Nogueira,
de S. Miguel de Soutelo, de Santa Maria de Oriz, e de S. Cibrão de Vilar
de Ossos.
A avaliar pela quantidade de cargos
eclesiásticos, não admira que as casas que o Dr. João De Coimbra mandou
edificar viessem a reflectir toda a sua importância social e económica.
São também de considerar as influências
humanísticas e renascentistas exercidas pelo Cardeal D. Jorge da Costa e pelo
grande Arcebispo D. Diogo de Sousa, a quem esteve muito ligado, e que devem ter
contribuído para moldar a sua sensibilidade e gosto artísticos.
Por outro lado, teve o Dr. João de
Coimbra a oportunidade de aproveitar a estadia em Braga dos artistas
Biscainhos, chamados por D. Diogo de Sousa "para a majestosa fábrica da
capela-mor da sua Catedral", aos quais encarregou de construírem a sua
residência – a Casa dos Coimbras. Iniciado em 1505, o edifício
encontra-se concluído no ano de 1512, tendo o Dr. João de Coimbra despendido
para o efeito uma grande soma de dinheiro.
Treze anos após a realização destas
obras, D. João de Coimbra manda construir, para sepultura, a Capela de Nossa
Senhora da Conceição, na Igreja de S. João do Souto, situada também dentro dos
muros da cidade, em frente à torre-capela da sua residência, ou seja, no lado
norte da Rua de S. João. A Capela foi edificada em 1525, (conforme a inscrição
nela gravada), pelos mesmos artistas que haviam construído a Casa dos Coimbras
e a sua beleza arquitetónica motivou a publicação de diversos estudos
histórico-artísticos até aos dias de hoje.
Posteriormente, a 16 de Fevereiro de
1530, o Dr. João de Coimbra institui, com licença d'El Rei D. João III,
(provisão de Março de 1527 e breve do papa Clemente III), um vínculo na sua
Capela, com obrigação de Missa quotidiana de 24 reis e 2 quartos de ceitis e
mais uma missa todas as Sextas-feiras, e ainda com obrigação de, sendo a Capela
visitada pelo Prelado, o Administrador lhe doar 1.200 reis (a respetiva
manutenção deste vínculo era portanto bastante cara). Constituíam este
vínculo muitos e importantes bens, sendo de assinalar, entre outros, a Quinta
de Oriz com a sua Torre, (que é hoje propriedade de meu Primo Paulo de
Lencastre, aqui presente), o Casal de Toral, na freguesia de Santa Eulália de
Tenões, os Casais de Carcavelos e do Rego, em S. Martinho de Dume, a Quinta do
Lago, (Entre Homem e Cávado), as casas da Rua do Souto e do Adro de S. João do
Souto, e outras casas, com quintal, em Lisboa.
À sua descendência até finais do Século XIX, se devem alguns acrescentamentos e melhoramentos na Casa da Rua de S. João, como sejam: "os dois corpos extremos, as escadas e as portas subjacentes, a escada do pátio e a cocheira onde deu nova ampliação aos motivos ornamentais retirados do velho edifício"
Por princípios do século passado, em
1903, a Câmara de Braga, demonstrando uma total ignorância pela beleza deste
solar, e tendo em vista a abertura da Rua D. Afonso Henriques e do Largo S.
João do Souto, expropriou o terreno, deixando ao seu proprietário, D. José
Maria de Queiroz de Lencastre, (4º Neto de D. Serafina de Coimbra que, por
sua vez, era 5ª Neta de D. João de Coimbra e casada com João de Queiroz
Botelho), todo o material do edifício.
A demolição que então se seguiu parecia
significar o fim da Casa dos Coimbras. No entanto, consciente da sua
responsabilidade como representante da histórica família dos Coimbras, o Senhor
D. José de Lencastre não esmoreceu de ânimo. E assim, embora pudesse ter levado
as pedras e demais ornamentos para outras casas e quintas de que era
proprietário, resolveu em vez disso guardá-Ias em Braga, (primeiramente no
Palácio das Carvalheiras e posteriormente noutro local), procurando adquirir um
terreno que se situasse junto da Capela e do antigo Solar, o que veio a
conseguir alguns anos mais tarde.
Assim, em 1924, é concluída a reconstrução da actual Casa dos Coimbras, inspirada no antigo edifício, e segundo o projecto do notável arquitecto bracarense José da Costa Vilaça. Esta feliz intervenção impediu que a cidade de Braga viesse a perder um dos seus edifícios de maior beleza arquitectónica.
Os actuais proprietários dos dois edifícios, continuam a dar cumprimento às determinações do Fundador da Capela e, a exemplo dos seus antepassados, nela mandam celebrar, todos os anos uma Missa, no dia 8 de Dezembro, dia da Imaculada Conceição. Resta acrescentar que a demolição da Casa se inseriu num processo de destruição de toda a parte medieval da cidade, levada a efeito naquela época. Infelizmente, já nos nossos dias, perante a passividade das entidades responsáveis, tem-se continuado a assistir à delapidação do património histórico local e à consequente descaracterização da velha Cidade dos Arcebispos”.
- Queridos Amigos,
peço desculpa pelo alongar desta dissertação, mas penso que ela não só foi
pertinente, como também justa e merecida, perante as obras em vida destes
dois nossos honrados antepassados que se materializam neste Monumento à
nossa História, à nossa Fé e à nossa Família.
Tenho para mim que, à medida que
avançamos na nossa longevidade de vida, começamos a pensar e a descobrir o
nosso mundo fora das esferas do tempo e do espaço. Procuramos algo maior e
etéreo para a nossa existência. Algo que nos una ao que nos precede e ao que
nos procede. Passado, Presente e Futuro. De facto, acredito que esta “Geometria
Triangular Existencial” materializa-se e consubstancia-se neste espaço, a Casa
e Capela dos Coimbras e neste tempo, os nossos 8 de Dezembro de todos os anos.
Conhecer as nossas origens e celebrá-las
neste dia tem sido para nós, ao longo destes 45 anos, uma Missão contínua que
uma vez mais cumprimos hoje.
E…, no entanto, falta ainda cumprir o Futuro. Como já dizia o Poeta…falta cumprir-se Portugal!
Seja esta a Hora!
PORTUGAL, PORTUGAL, PORTUGAL! VIVA!
Seguiu-se um
almoço-convívio no Jardim da Casa dos Coimbras, no final do qual, cumprindo a
tradição, a Sobrinha e Afilhada do actual Administrador, Maria de Guadalupe Madeira
de Vasconcelos Lencastre Stoffel, com a ajuda de D. Gaspar de Lencastre, leu
para todos a Acta, relativa à reunião familiar do ano de 2021, com indicação dos
nomes de todos os presentes no almoço-convívio por essa ocasião.