O último significativo espaço de culto devotado à Conceição de Maria surgiu
em 1924. O Seminário Menor, instalado sobre o antigo recolhimento dominicano de
Tamanca, foi uma iniciativa do Arcebispo D. Manuel Vieira de Matos.
O culto de Nossa Senhora da Conceição encontra um profundo enraizamento na
cidade de Braga. Numa pastoral enviada a toda a Arquidiocese de Braga em 1904,
o Arcebispo Primaz D. Manuel Baptista da Cunha afirmara que “esta nossa cidade
de Braga a nenhuma outra cedeu o lugar de devotíssima deste santo mistério, muito
antes de definição dogmática”. A afirmação, que podia aparecer como mera
apologética, acaba por encontrar na história uma profícua verificação.
Se o santuário do Sameiro se afirmou inequivocamente como o mais relevante
centro de devoção à Imaculada Conceição em Portugal, antes da sua fundação já
na cidade de Braga existiam inúmeros focos desta invocação. A 24 de fevereiro
de 1647 a cidade de Braga foi consagrada a Nossa Senhora da Conceição, dando sequência
ao que já havia ocorrido no sínodo da diocese ocorrido uma década antes.
O século XVI terá sido o momento em
que esta invocação mariana foi introduzida na cidade de Braga, mais propriamente
por intermédio de D. João de Coimbra, o Provisor do Arcebispo D. Diogo de
Sousa. A capela de Nossa Senhora da Conceição, mais conhecida pelo nome da
família que a edificou, é a primeira manifestação significativa deste ideário
devocional.
A chegada dos franciscanos à cidade de Braga em 1523 haveria de precipitar
uma progressiva implantação deste culto. Primeiro no convento dos capuchos da
Piedade em S. Jerónimo de Real, no século seguinte com a fundação de um
convento de inspiração franciscana denominado “da Conceição” na antiga rua dos
Pelames e, na mesma centúria, com a edificação da igreja dos Terceiros cujo
padroado está confiado a Nossa Senhora da Conceição. Ao mesmo tempo, em
diversos espaços de culto ia sendo instaurada a devoção “nacional”, que o rei
D. João IV proclamava padroeira de Portugal a 25 de março de 1646.
Na ancestral porta medieval de Santiago haveria de surgir o mais importante
núcleo devocional de Nossa Senhora da Conceição, cuja imagem haveria de ser
declarada “especialíssima defensora da Augusta Braga”. O Oratório de Nossa
Senhora da Torre, que haveria de ser monumentalizado sob projeto de André
Soares após o terramoto de 1755, encontra-se instalado naquela torre medieval
desde meados do século XVII.
A capela do Paço do Arcebispo, edificada no início do século XVIII, também
iria adotar como padroeira de Nossa Senhora da Conceição. No mesmo período é
fundado o convento da penha de França, devotado à mesma invocação.
Um dos espaços mais relevantes do culto a Nossa Senhora da Conceição
existentes na cidade de Braga foi, durante um período significativo, uma ermida
sob esta invocação localizada no chamado “Monte das Penas”, que haveria de
tornar-se na sede da paróquia de Maximinos após a demolição da primitiva “parochial”.
Os principais templos da cidade de Braga acabaram por ver refletida esta
invocação mariana, nomeadamente os que estavam adstritos às ordens religiosas
masculinas. Os carmelitas, historicamente fiéis à causa imaculista, exibem no
interior do seu templo uma capela lateral dedicada a esta invocação. A igreja
do Pópulo detém igualmente uma elegante capela lateral do período barroco
instituída sob esta devoção mariana. Também a igreja do antigo Colégio de São
Paulo possui uma capela lateral devotada a Nossa Senhora da Conceição inserida
numa rara iconografia da árvore de Jessé.
Para completar o périplo pelos conventos masculinos bracarenses, falta
abordar os Congregados, antigo convento dos oratorianos. Nas dependências do
templo exibe-se um pequeno oratório, denominado de capela do Monge, que
impressiona pelo requinte decorativo. Devotado, segundo as crónicas, a Nossa
Senhora Aparecida, exibe no seu retábulo uma imagem mariana cuja representação
iconográfica corresponde à de Nossa Senhora da Conceição. Além do convento, os
Oratorianos possuíam uma “casa de campo para sua recreação”. Localizava-se no
lugar das Goladas, e detinha uma ermida devotada a Nossa Senhora da Conceição.
Também a Sé Primaz possuía uma especial veneração a Nossa Senhora da
Conceição. No antigo claustro de Santo Amaro, desmantelado aquando das obras
promovidas pela DGEMN, existia um oratório sobre a porta da capela de São Geraldo
devotado a esta invocação mariana, que havia sido instituída em 1606 pelo
Cónego Francisco da Costa, o mesmo que esteve na origem do surgimento da Ordem
Terceira na cidade de Braga.
A fundação do santuário do Sameiro a partir de 1863 haveria de confirmar
esta especial predileção bracarense pela devoção a Nossa Senhora da Conceição. Erigido
em comemoração do dogma da Imaculada Conceição, tornar-se-ia num dos maiores
centros de devoção mariana em Portugal.
Apesar de Vila Viçosa deter a imagem mariana coroada pela mão do monarca
português e de Coimbra lhe ter consagrado a mais antiga academia nacional, não
sobram dúvidas de que foi a cidade de Braga a que mais testemunhos acumula
desta tão discutida invocação e também a que lhe dedica maior vitalidade.
Retábulo da Capela dos Coimbras, dedicado a Nossa Senhora da Conceição, ladeada por sua mãe Santa Ana (à direita) e seu pai São Joaquim (à esquerda) |
Um debate secular
Uma mulher vestida de sol, coroada com doze estrelas, esmagando uma
serpente e com a lua debaixo dos pés. Prevista no pensamento divino desde toda
a eternidade, nela se cumpriu o projeto de salvação da humanidade que os judeus
anunciaram ao longo de séculos. Debatida ao longo de séculos, a sua conceção
isenta de mácula vai tornar-se uma problemática sobretudo filosófica e
teológica. Apesar das divergências racionais e da ausência de fundamentação
bíblica, a conceção imaculada de Maria começou a ser celebrada nomeadamente no
Oriente. A partir da Idade-Média os franciscanos vão propagar esta devoção nos
lugares onde detinham singular influência. Seria precisamente um Papa franciscano,
Sisto IV, quem no ano de 1477 haveria de integrar a festa de Nossa Senhora da
Conceição no calendário litúrgico. A constituição apostólica “Sollicitudo
Omnium Ecclesiarum”, publicada por Alexandre VII a 8 de dezembro de 1661,
limitaria a dialética que a proclamação dogmática “Ineffabilis Deus”,
empreendida pelo Papa Pio IX em 1854, encerraria.
* Texto escrito em conformidade com o
novo acordo ortográfico.
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